Hoje em dia muito se fala de economia colaborativa, das novas tendências e formas de trabalho que estão permeando todos os setores principalmente o comércio, serviços e produção, do coworking. Quais os conceitos e definições que são aplicados a estes movimentos orgânicos e que nos seduzem e parecem ser a solução para muitas questões atuais? Numa análise sob a luz dos quatro níveis qualitativos das organizações – identidade, relações, processos e recursos – é importante fazer uma reflexão sobre os aspectos que estão transformando e resgatando as relações de trabalho e parcerias, contribuindo para que a sociedade repense seus valores e propósitos.
O que é economia colaborativa?
Colaborativo, são as infinitas formas em que a sociedade em rede se organiza, produz, reinventa. Está muito relacionada a economia criativa e compartilhada, apresentando um grande potencial de crescimento na sociedade atual a ponto de ser considerada uma nova mega tendência transformadora da história da humanidade.
Dentro dos principais conceitos, as ideias que melhor explicam a economia colaborativa são: um novo modelo de compartilhar bens, economizar e reduzir gastos, uma forma criativa de fazer gestão de negócios e prestar serviços. Estamos na era dos COs: coletivo, colaboração, co-criação, cooperação, coworking. O crescimento deste modelo, apesar de ser uma prática mundial, acontece no Brasil de forma crescente e tem forte influência do momento de agravamento de crise econômica, porém não deve ser analisado como um fator isolado. A preocupação dos consumidores com as causas relacionadas a sustentabilidade, ao consumo consciente, as diferenças sociais, a erradicação da miséria, os direitos humanos, entre outros fatores está diretamente relacionada a disseminação destas práticas. A velocidade da informação ampliou as possibilidades de acesso aos indivíduos, muitos novos negócios estão fortemente orientados para a busca da sustentabilidade.
A colaboração é um processo que relaciona diferentes capacidades gerenciáveis e tem um forte impacto sobre o resultado inovador. A inovação depende tanto de criatividade como de processos de organização do conhecimento, técnicas e tendências de gestão, conhecimento de comportamento, sociedade, economia, alta adaptação e adequação aos cenários e desafios da atualidade.
A capacidade colaborativa nas organizações é a capacidade de construir e gerenciar relacionamentos de rede com base na confiança mútua, comunicação e comprometimento. São elas as que produzem os diferenciais competitivos no mercado:
- Capacidade adaptativa: orientação para o mercado
- Capacidade absortiva: gestão do conhecimento e aprendizagem
- Capacidade inovadora: criatividade, implementação e crítica.
As quatro esferas da colaboração
A colaboração se revela em quatro esferas: nos produtos e serviços que chegam ao mercado, nos processos que é a forma como as pessoas e empresas se organizam para fazer algo, em ambientes propícios que permitam trocas internas e externas e na predisposição que as pessoas tem para fazerem seu trabalho.
Conforme descrito na matriz abaixo:
Inteligência Colaborativa:
Nos novos paradigmas de “Modelos de Negócios Inovadores e Sustentáveis” é necessário a construção estruturada do conhecimento, através da: co-criação, compartilhamento de ideias, habilidades e conhecimentos; onde algumas premissas são básicas para se conceber um bom negócio:
- Articulação e discussão sobre o tema, viabilizando internamente a proposta e externamente com o mercado;
- Motivação para o processo de colaboração intelectual, prática e teórica do grupo de trabalho;
- Contextualização e síntese de ideias para elaboração de planos estratégicos;
- Avaliação e autocrítica na revisão dos conceitos e conteúdos do negócio.
Gestão do Conhecimento:
Análise sobre os quatro níveis qualitativos nas empresas:
I. Identidade – Sobre a esfera da identidade da empresa, seus valores, princípios, os seguintes aspectos podem ser observados como presentes nas organizações colaborativas:
a. Propósito para o bem coletivo, em todas as esferas, do eu para o nosso;
b. Servir aos outros, compartilhar
c. Valores presentes: fé, confiança, verdade, transparência;
d. Sustentabilidade socioeconômico ambiental;
e. Comunidades Sociais;
f. Responsabilidade Social Empresarial;
g. Incubadoras, talentos coletivos;
h. Campo social sutil, espiritual;
i. Ética, caráter.
II. Relações – na forma como as pessoas se relacionam as características mais marcantes são:
a. As pessoas são motivadas por um propósito comum que é alinhado ao seu propósito individual;
b. Baseadas na confiança, na entrega genuína;
c. Respeito pela diversidade, tolerância;
d. Compartilhamento verdadeiro e desinteressado, pelo bem do outro e do coletivo;
e. Clima de abundância, de reuso, reciclagem, preservação da natureza;
f. Autogestão do tempo, horários flexíveis;
g. Organizações horizontais, autonomia para tomada de decisões, transversalidade
h. Modelo de gestão informal, líder servidor, gestores de comunidades (mentor, coach, consultor de relacionamento);
i. Liderança incentivadora e apoiadora dos diálogos, aberta a sugestões, provoca os encontros e relações para a co-criação, busca nos stakeholders o apoio para o desenvolvimento dos projetos;
j. Networking, sinergia em rede, cuidadores das relações interpessoais que promovem encontros de onde brotam negócios, ideias, produtos;
k. Leveza, descontração, liberdade de expressão no ambiente de trabalho;
l. Presença dos stakeholders, anjos e mentores principalmente em ambientes de startups.
III. Processos:
a. Planejamento orgânico, colaborativo, o que vai ser feito é co-criado decidido pelo grupo (ex: startups)
b. Apoio das tecnologias digitais e ferramentas de gestão participativa (canvas, design thinking, modelos multidimensionais)
c. Ambientes de aprendizagem que favorecem processos educativos onde cada persona assume suas responsabilidades e gerência (ex: startups)
d. Comunicação transparente e atualização constante garantem a eficácia do gerenciamento das informações em todo o ciclo de vida dos projetos e processos.
e. Centralização virtual das informações na plataforma, disponíveis a todos, nas chamadas “nuvens”.
f. Controle de produção, custos e desempenhos
g. Análise de procedimentos e revisões constantes dos produtos e serviços
h. Logística e distribuição apoiados pela tecnologia
i. Grandes equipes multidisciplinares trabalhando em modelo integrado (ex: BIM)
IV. Recursos: as maiores mudanças encontradas são:
a. A organização se baseia nos recursos intangíveis, capital intelectual, humano, criativo;
b. Economia do compartilhamento, onde os recursos físicos materiais são comuns, valor no poder de uso e não na posse;
c. Ambientes compartilhados (coworkings)
d. Tecnologias são fundamentais para inovação, informação e comunicação (ex: plataformas que facilitam caronas, empréstimos de coisas);
e. Alta tecnologia da informação (ex: BIG DATA)
f. Consumo consciente
g. Crowdfunding (financiamento coletivo).
Mais satisfação, integração e produtividade
Nas formas de trabalho, com estruturas empresariais colaborativas ou associativas, onde as relações são movidas por um propósito de gerar impacto benéfico para todos os envolvidos nos negócios, direta ou indiretamente, e também ao meio ambiente, pode-se destacar o que de maior valor foi encontrado: as pessoas declaram-se mais felizes, sentem-se mais integradas e parte importante do todo. Há uma melhoria no padrão de trabalho, na produtividade, no networking. Isto destaca a importância das relações e da identidade na essência das organizações. A presença de um líder inspirador, que promova o encontro de forma a transformar ideias em negócios é essencial. O clima nesses ambientes de trabalho é muito mais leve e criativo do que um ambiente tradicional. Mas para que tudo isso aconteça é fundamental que a competitividade abra espaço para a comunicação aberta, a propriedade intelectual deixe sua característica individual e passe a ser compartilhada para agregar valor e materializar-se em inovação e benefício social.
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